Três perguntas: BaaS – importância, quando vale a pena e tendências

Conversamos sobre BaaS (Bank as a Service) com Carlos Benitez, CEO da BMP Money Plus. O BMP é um banco que trabalha com a organização e operacionalização de estruturas de BaaS.

Qual a importância das estruturas de BaaS?

Já faz bastante tempo que eu tenho como referência um banco de montadora. Por exemplo, a Volkswagen tem o Banco Volkswagen, e a Caterpillar, a CAT Financial. O objetivo dessas plataformas bancárias é incentivar a venda dos produtos da Volkswagen e da Caterpillar. Há 10 anos, eu me perguntava por que somente os caras grandes têm essas estruturas.

Antes disso, na década de 1990, eu havia trabalhado numa trading que havia se tornado um banco de crédito de marcas de automóveis que ainda não haviam estruturado suas operações no Brasil.

A construção de produtos direcionados para cada atividade, segmento e negócio foi ficando cada vez mais fácil com a tecnologia. A questão é que você tem que ser um banco para fazer o BaaS, ou ter um core bancário para fazer isso. Hoje se disseminou que um cartão pré-pago espelhado num aplicativo é um BaaS, mas quando se fala em banking, você tem excesso de informações. Além disso, ele não é um processo democrático. Um banco não coloca o seu dinheiro através de uma distribuição social de incentivo a regiões com problema de crédito. Quem faz isso é o governo.

Hoje, o processo de BaaS está banalizado. Esse processo não envolve apenas o core bancário inteiro. Ele não é só a tecnologia. Você vê software houses oferecendo serviços, mas é preciso ter o conhecimento técnico básico de todo o ambiente bancário, que não é simples. Não é simplesmente pedir uma licença no Banco Central e sair operando no mercado. É a mesma coisa que achar que quando se entra na faculdade de Medicina se vai fazer cirurgias do coração. Não é assim que funciona.

Hoje se vê pessoas sem preparo vendendo soluções que não contemplam todo o processo bancário. Simplesmente fazem o front inicial como se fosse uma wallet, onde as pessoas guardam seu dinheiro dentro de uma carteira num aplicativo. Isso não é uma plataforma bancária. Por mais que se consiga fazer uma transação de Pix ou pagamento, um banco é muito mais do que isso.

Quando sentamos com um parceiro, já que o nosso negócio é B2B, apesar de termos algumas atividades proprietárias como carteiras de crédito, nós olhamos para dentro do cliente para entendermos toda a sua cadeia de negócios e quem são os participantes da sua atividade comercial, como clientes, fornecedores e prestadores de serviços. Não é simplesmente chegar e vender uma plataforma bancária. Com isso, nós mostramos quais seriam os produtos que poderiam ser adaptados aos participantes do seu ecossistema. A partir disso, é possível dizer se é necessário ter crédito para pessoa jurídica ou parcelamento para que as pessoas físicas possam comprar os seus produtos. O ambiente de Pix, TED e boleto se torna apenas um acessório na cadeia em que o dinheiro passa.

Vou usar o exemplo de uma oficina mecânica. Você leva o seu carro a uma oficina, que compra peças de um distribuidor, que foram feitas por um fabricante que foi abastecido por fornecedores. Se todos eles tiverem conta no Itáu, o próprio banco não vai saber disso, pois devido ao seu tamanho, ele segrega de tal forma os clientes que não consegue ver que um acaba conversando com o outro no final. Pode até ver isso como informação, mas ele não consegue dar atenção.

Quando se constrói uma plataforma bancária que roda dentro da própria cadeia, você consegue criar produtos específicos e aproveitar muito melhor o dinheiro que está lá dentro. São percentuais que parecem pequenos, mas que num grande volume de negócios dentro de um ecossistema acabam se tornando spreads maiores. Isso não é simples, pelo contrário. É um longo roadmap, assim como toda instituição bancária que demorou para chegar até aqui de forma lucrativa, mas é um processo que a empresa precisa construir para aproveitar melhor as fortalezas do seu negócio.

Quando vale a pena uma empresa montar uma estrutura de BaaS?

O BaaS é apenas despesa quando se resume a oferta de uma simples wallet e de um cartão pré-pago. O custo para se montar esse tipo de operação não vai trazer uma rentabilidade muito alta, pois quem vai usar quer uma conta gratuita sem o pagamento de uma tarifa mensal ou quer fazer uma transferência barata ou gratuita. Tudo isso gera muito custo para se ter sistemas proprietários de antifraude, desenvolvimento interno e atendimento ao cliente. Você tem uma série de necessidades que não são só aquela pequena tecnologia de transação financeira.

Por exemplo, se o token de autorização de um cliente não funcionar, ele vai ter que ligar no SAC. O C6, com uma estrutura muito maior, passou por uma situação em que os clientes não conseguiram falar por meses com seu SAC.

Por outro lado, se a empresa tem uma cadeia onde existe trânsito de capital que possibilita a oferta de crédito direcionado para os seus participantes, ela tem que partir para a construção de uma estrutura de BaaS. A rentabilidade está no crédito, e não no ambiente transacional de pagamentos. Isso não existe.

Na sua opinião, quais são as tendências do BaaS para os próximos anos?

Haverá estruturas que vão criar produtos direcionados e que vão ter sucesso onde uma atividade econômica tem demanda muito pesada, mas não tem oferta. Por exemplo, um banco do caminhoneiro. Não existe nada direcionado para este mercado, sendo que a única coisa que o caminhoneiro quer fazer é comprar pneu mais barato, pois ele faz essa compra de três a quatro vezes no ano de forma parcelada. Essas plataformas terão marketplaces de consumo onde serão ofertados produtos cuja aquisição poderá ser feita com crédito disponibilizado para atendimento do usuário. Esse modelo também atenderá atividades profissionais específicas.

Por outro lado, nós temos plataformas tecnológicas de tráfego intenso, como marketplaces, e-commerces e adquirentes, que possuem a fidelização do seu cliente final e dos seus parceiros, e que vão agregar serviços de BaaS na própria plataforma. Hoje, você vai no Mercado Pago, que antes era simplesmente uma carteirinha digital, e tem uma série de informações com as quais você utiliza o Mercado Livre e o Mercado Pago ao mesmo tempo. Você tem a mesma coisa na AME.

Uma plataforma como o PicPay já vai ter mais dificuldade, pois ele não é marketplace ou um ambiente de relacionamento direcionado. Ele tenta fazer o que o Nubank fez, mas com uma cabeça de wallet para se diferenciar do banco original. Ele vai ter dificuldade com esse modelo pois, como já disse, a receita de uma wallet é muito baixa. Mesmo o Nubank, que foi uma grande e extraordinária surpresa, ainda tem muito o que provar.

Fonte: Monitor Mercantil

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