BMP MoneyPlus quer deixar “bastidores” e prevê transacionar mais de R$ 100 bi este ano
Com atuação discreta e nos bastidores, a BMP MoneyPlus — um dos principais provedores de banking as a service (BaaS) do país — agora quer se mostrar mais.
A empresa está começando a constituir uma área de marketing, vai patrocinar o Febraban Tech (antigo CIAB) em agosto, prepara o lançamento de uma nova marca, que é guardada a sete chaves, e segue reforçando sua equipe de tecnologia — que representa um terço dos mais de 200 funcionários.
“Estamos vindo não mais como um movimento de suporte para quem está procurando uma ponte para ser instituição, mas uma estrutura firme e robusta em que fazemos crédito, cobrança, regulatório, atendimento, estruturamos funding, entregamos, de fato, algo completo. Entregamos o banco, não o banking”, disse Carlos Eduardo Benitez, CEO da BMP MoneyPlus, ao Finsiders.
O executivo antecipou algumas novidades para este ano. Uma delas é o relançamento do Credicarro, plataforma para financiamento e refinanciamento de carros criada por ele em 1999, e que daria origem ao negócio da BMP. Na época, Carlos Eduardo construiu uma plataforma que sua filha, hoje com 10 anos, faria, brinca ele. “Eu recebia proposta, copiava numa ficha cadastral para o banco analisar, recebia de volta”, relembra.
Vinte e três anos depois, agora o executivo enxerga oportunidade em um peer-to-peer (P2P) na operação de veículos, com foco em financiamento e refinanciamento. “A estrutura está 100% pronta”, conta. “Tiramos tudo em volta que poderia ser complexo, como lojista, concessionárias, correspondentes, e vamos trazer comprador e vendedor. É um P2P de veículos, mas temos conhecimento e ferramentas para trazer para a operação. Existe demanda no mercado para uma pessoa física vender para outra.”
Com operação inicialmente na região Sudeste, em estados como São Paulo, Paraná e Minas, a Credicarro versão 2022 atuará com a própria estrutura financeira, mas também abrirá a plataforma para instituições parceiras. “O mercado é colaborativo. Prefiro ter outros bancos juntos do que perder a operação”, diz.
Nos próximos meses, a BMP também vai ampliar a atuação em alguns segmentos e modalidades, como linha de financiamento para máquinas e equipamentos.
“Já atuamos na construção, terraplanagem, agro e mineração, com linha amarela, e vamos baixar a régua, para atuar no mercado de máquinas de até R$ 80 mil. Vamos financiar a empilhadeira”, revela.
Outro produto que está sendo lançado é o ‘buy now, pay later’ (BNPL), o crédito direto ao consumidor (CDC) em versão digital. “Nosso modelo é um pouco diferente”, diz Carlos. “A solução traz uma ferramenta de controle que vai usar Open Finance, em que visualiza movimentos para efetuar os débitos. Analisamos para ver fluxo de entradas, e tem uma inteligência que analisa a operação.”
A BMP também vai reforçar sua atuação no chamado ‘crédito fumaça’ via maquininhas de cartão. “Interrompemos devido aos problemas do registro de recebíveis. O BC está ciente disso. Foram resolvidos os problemas de antecipação de recebíveis, mas de capital de giro, não. As registradoras não têm capacidade de processamento e de atendimento aos problemas”, avalia.
A empresa está fazendo, ainda, um spin-off para começar a vender tecnologia bancária, com um core banking completo. “Desenvolvemos muita coisa dentro de casa, e outros podem consumir tudo isso”, conta Carlos. “A ideia é ir ao mercado em dois anos”, completa o executivo.
Crescimento
A BMP terminou o ano com 250 parceiros e se aproxima de 280 — metade desse número é formado por fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) e securitizadoras. A meta é chegar a 400 parceiros até o fim de 2022. “Temos demanda de dois, três novos clientes por semana”, diz Carlos. “Tínhamos área comercial com 4 pessoas, hoje são 15. Nosso objetivo é se apresentar mais.”
Na lista de empresas que utilizam as soluções da BMP estão fintechs como BizCapital, Provi, Mercado Pago e outras, além de varejistas e marketplaces como Mercado Livre, Via e Shopee, assim como grandes players do setor bancário, como Itaú Unibanco e BTG Pactual.
No ano passado, a BMP intermediou R$ 10,5 bilhões em volume de crédito, num total de 4,7 milhões de operações. A expectativa é chegar a 7 milhões de operações de crédito, somando R$ 17 bilhões.
Em valores transacionados na plataforma, foram R$ 30 bilhões em 2021 e a projeção é atingir R$ 100 bilhões neste ano, mas o número pode ser ultrapassado. “Temos feito mais de R$ 10 bilhões desde fevereiro. Então, a tendência é bater R$ 120 bilhões a R$ 130 bilhões [em volume transacionado na plataforma]”, aponta Carlos.
Operação
Desde 2009, a empresa atua como sociedade de crédito ao microempreendedor e à empresa de pequeno porte, enquadrada no segmento S5. Dez anos depois, a BMP também recebeu autorização do Banco Central (BC) para operar como Sociedade de Crédito Direto (SCD).
A oferta de crédito com recursos próprios tem como funding três FIDCs. Essa linha de negócio foi impactada pela pandemia e a BMP decidiu interrompê-la em abril de 2020, e agora está retomando lentamente, diz Carlos. “Nós vamos voltar para crédito, mas dentro de um limite razoável de controle.”
Sobre captação de recursos com investidores para o crescimento do negócio, o empreendedor — o único dono do grupo BMP — diz que não precisa de capital. “Preciso de cliente, não de grana”, enfatiza Carlos.
Competição
Em evento recente da Acrefi, a própria BMP apresentou dados do Instrospective Market Research que mostram que o Brasil representa 73% do mercado de banking as a service (BaaS) na América do Sul, com uma receita de US$ 1,4 bilhão em 2021.
No país, há um movimento crescente de players que oferecem infraestrutura tecnológica e regulatória para empresas que pretendem ofertar produtos e serviços financeiros, inclusive crédito. Entre eles, estão players como Dock, Bankly (do Méliuz), FitBank, Zoop, Swap, QI Tech, além de bancos como BTG Pactual, BV, Original, Itaú BBA, Citi, Modal, Genial, ABC Brasil e outros.
“Acho que meus concorrentes serão cada vez mais os grandes bancos”, define Carlos, da BMP. “Estamos há 23 anos nesse mercado. Entendemos o que funciona ou não, já testamos com muita gente. Nosso papel é trazer inteligência para quem quer entrar no mercado bancário. É muito mais trabalho de arquiteto do que engenheiro. É o expertise na veia.”
Fonte: Finsiders