BMP MoneyPlus cresce em banking as a service e quer movimentar R$ 100 bi este ano
Grande divisor de águas para a companhia veio em 2016, quando fez uma parceria com o Mercado Livre que, depois, acabou atraindo várias outras fintechs.
Se você já teve curiosidade e rolou até o fim do website de uma fintech, muito possivelmente pode ter se deparado com a informação de que ela na verdade não é uma instituição financeira e, para exercer parte de suas funções, atua como correspondente bancário da BMP MoneyPlus. Mas quem é esse grupo que tem mais de 250 parceiros e hoje figura como um dos principais provedores de banking as a service (BaaS) do Brasil?
A BMP teve origem em 1996, quando Carlos Eduardo Benitez, após voltar de uma temporada nos Estados Unidos, montou uma plataforma para financiar refinanciar veículos, chamada Credicarro. Em 2009, se tornou uma micro financeira (licença de sociedade de crédito ao microempreendedor e e à empresa de pequeno porte). Alguns anos depois, o executivo percebeu que, com o avanço da tecnologia, novas plataformas que estavam surgindo poderiam servir também distribuir produtos bancários.
Ainda assim, Benitez percebeu que mesmo com o avanço da tecnologia, tentar captar clientes no mar aberto da internet era muito caro e pode inviabilizar muitos modelos de negócio (inclusive de fintechs atuais). O grande divisor de águas veio em 2016, quando, após receber negativas de diversos bancos, o Mercado Livre acabou batendo na porta na BMP, pedindo ajuda para montar um esquema que ofertasse crédito para os vendedores da plataforma.
“Nessa época a gente ficava em um prédio bem simples, em frente ao cemitério da Consolação, e eu soube que antes de virem aqui eles olharam o endereço no Google e quase desistiram, acharam que não era uma empresa séria”, conta Benitez. Felizmente, para ambas as partes, o negócio foi pra frente. Ele contratou advogados, estudo a regulamentação, estruturou a parte tecnológica e conseguiu chegar em um meio termo com os parceiros. A estimativa era conceder R$ 35 milhões em crédito no primeiro ano, mas acabou chegando a R$ 250 milhões.
Pouco antes disso, Benitez tinha começado a ouvir falar de “fintechs” e começou a pesquisar o assunto, inclusive participando de eventos no exterior. Rapidamente entendeu que precisaria automatizar seu negócio, ou seria engolido pelo avanço tecnológico. Saiu à caça de uma empresa de tecnologia que prestasse esse tipo de consultoria e o ajudasse a digitalizar sua operação de financiamento de veículos. Não encontrou exatamente o que queria, mas acabou adquirindo 100% de uma empresa de tecnologia de três desenvolvedores sêniores. “A tecnologia é uma empresa de engenharia, ela entrega a infraestrutura, mas você precisa ainda de uma empresa de arquitetura, que pense no desenho do produto, senão ele não vai ter funcionalidade nenhuma”.
A equipe de TI saiu dos três funcionários iniciais para 60. Logo após o acordo com o Mercado Livre, a BMP começou a ser procurada por dezenas de outras fintechs, varejistas e mesmo grandes players tradicionais do mercado, como B2W, Via Varejo, Shopee, Cielo, XP, Itaú, BTG, entre outros. Hoje, dos seus 252 parceiros, 80 são empresas e outros 130 são FIDCs. A meta é chegar a 400 parceiros até o fim do ano. Em 2021, a BMP intermediou 4,7 milhões de operações de crédito, ou R$ 10,5 bilhões em valores dessas operações. Os volumes movimentados nas suas plataformas chegaram a R$ 30 bilhões. Para este ano, a meta é chegar a 7,5 milhões de operações de crédito (R$ 17 bilhões) e R$ 100 bilhões movimentados.
Além da licença de micro financeira, em 2019 a BMP obteve também a permissão para operara como sociedade de crédito direto (SCD). Ainda assim, dados os grandes volumes que movimenta, talvez tenha em breve de pedir um outro tipo de licença perante o BC.
Se a parceria com o Mercado Livre em 2016 foi um divisor de águas, outro momento igualmente importante veio em 2020, quando a BMP aderiu ao Peac Maquininhas, o programa do governo federal para ajudar microempreendedores durante a pandemia. Como os repassadores tinham poucas semanas para fazer o dinheiro do BNDES fluir, agilidade era fundamental. “Nós vimos que estávamos melhor preparados que qualquer banco. Ficamos em segundo lugar, com R$ 540 milhões repassados, só perdemos para o Banco do Brasil. E isso porque alguns bancos dificultaram o acesso aos dados de algumas credenciadoras, senão tínhamos feito o dobro”.
Foi a partir daquele momento que a comunidade financeira começou a olhar com outros olhos para a BMP. A Febraban chamou os executivos para conversar, queria saber quem era aquela companhia que nunca tinha ouvido falar. Com isso, novas oportunidades e clientes acabaram surgindo. “Foi quando percebemos que uma fintech como a gente pode brigar de igual para igual com qualquer banco. Não é necessário ter nada muito complexo para fazer um bom trabalho, pelo contrário, tem que ser algo simples, para o cliente e para quem opera”.
Isso não quer dizer que tudo seja uma maravilha na BMP. No início da pandemia, com medo do que viria pela frente, o grupo interrompeu quase toda a oferta de crédito própria. Com passagem pelo Safra, Benitez conta que aprendeu ali a ser prudente. “Quando eles veem que a economia vai começar a fraquejar, eles são os primeiros a sair [reduzir o crédito], e são os últimos a voltar quando as coisas melhoraram. Se funciona tão bem para eles há tantos anos, também vai funcionar para mim”, diz o executivo, que assim como a família Safra também é judeu.
Com isso, a receita do grupo, que antes era dividida quase pela metade entre crédito e serviços, hoje é 95% em tarifas. A carteira – sem considerar os repasses do BNDES – é de cerca de R$ 250 milhões, sendo 40% em financiamento de máquinas e equipamentos, 30% em crédito via maquininhas e 30% em financiamento automotivo. A meta é que este ano o crédito volte a crescer e responda por 30% da receita, chegando a 50% no médio prazo. Há dois empecilhos para isso, no entanto. O primeiro é que a receita de tarifas vem crescendo em um ritmo muito forte. E o segundo é o cenário macroeconômico.
“Eu sou economista. Ainda estou esperando o impacto financeiro da pandemia. A inadimplência vai subir bastante, por conta da perda de renda, do desemprego. Ainda estou esperando a porrada vir. De guarda levantada”, conta.
Apesar da metáfora pugilística, Benitez é fã de basquete. Chegou a ser campeão paulista e brasileiro de basquete nas décadas de 1980 e 1990. Seu escritório, hoje na Avenida Paulista, é cheio de apetrechos do Los Angeles Lakers, inclusive uma camiseta de Kobe Bryant – comprada na lojinha do clube mesmo, não usada pelo ídolo. O executivo é o único do dono do grupo BMP, que no ano passado teve lucro de R$ 33,548 milhões. De hábitos simples, sua única extravagância é assistir os jogos da NBA na beira da quadra, sempre que tem oportunidades. Anos atrás, chegou a pensar em comprar um time da segunda divisão do basquete americano, mas o plano não foi para frente e hoje em dias os valores dispararam.
Como gera resultados robustos, a BMP já tem os recursos que precisa investir na operação e, assim, Benitez diz que não precisa encontrar um parceiro estratégico. Ainda assim, ele não descarta um eventual acordo nesse sentido. “Eu não dou mandato nem exclusividade para ninguém, mas escuto. Já encontramos uma forma de fazer dinheiro, o que eu preciso agora são clientes. Quem quiser no comprar, fazer parceria, tem que vir com clientes”.
Fonte: Valor Econômico